sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Os Black Blocs sem máscaras

Investigar está na alma do jornalismo. Mas a investigação jornalística tem uma natureza distinta da policial... Quando saem a cam­po atrás de suas fontes, nossos repórteres estão em busca de conhecimento. Querem saber, e não prender, julgar ou condenar - todas essas atribuições nobres da polícia e da Justiça.

Foi esse espírito que moveu o repórter Leonel Ro­cha, da coluna de Felipe Patury em Brasília, ao inves­tigar os ativistas que, escondidos atrás de máscaras, promovem a violência em protestos e ficaram conhe­cidos como Black Blocs. Em junho, Leonel começou a con­versar com ativistas ligados a grupos de Black Blocs. Ele noticiou a realização de um treinamento do grupo em Cáceres, em Mato Grosso, e pediu para acompanhar o próximo. No final de outu­bro, recebeu o convite para testemunhar o encontro rea­lizado no fim de semana de Finados, no interior de São Paulo. O grupo pediu que Leonel não revelasse o local exato e só publicasse nomes e fotografias dos ativistas que autorizassem.

Um dos focos da investigação da PF - há duas semanas oficialmente no com­bate ao vandalismo urbano - é se os Black Blocs recebem algum tipo de apoio financeiro internacional. Na re­portagem dizem a ÉPOCA que sim, eles recebem. Entre os financiadores apontados por eles estão movimentos anarquistas e enti­dades ligadas à Igreja Católica - as associações que responderam a ÉPOCA negaram o apoio...

Um sítio a 50 quilômetros de São Paulo abriga um centro de trei­namentos para a minoria que adotou o quebra-quebra como forma de manifestação política e ficou conhecida como Black Bloc. Dois homens na faixa dos 40 anos vigiavam o portão, fechado com corrente e cadeado. Se não fosse por eles, um observador menos atento pode­ria acreditar que o local, carente de ma­nutenção, está abandonado. Não tem ani­mais, horta nem pomar. Não tem trator nem enxadas. É usado somente nos finais de semana, como espaço para reuniões e ensino de técnicas de resistência à polícia. Apenas uma das três casas erguidas há 50 anos está em condições de uso. As outras duas não têm água nem luz. Servem de depósito. No primeiro final de semana de novembro, quando se comemorou o Dia de Finados, pouco mais de 30 pessoas se reuniram nesse sítio para organizar uma nova onda de protestos contra tudo e contra todos - a presidente Dilma Rous-seff, políticos em geral, bancos, empresas de transporte, telefonia e comunicação.

Fui admitido no encontro como repórter de ÉPOCA. O que vi ajuda a compreender quem são, o que querem e o que pensam os Black Blocs. Mais: des­mente a concepção vigente entre órgãos de segurança federais e estaduais. É voz corrente que eles não têm organização e aparecem nas manifestações como que por geração espontânea. Ao contrário, eles têm método, objetivos, um progra­ma de atuação e acesso a financiamento de entidades estrangeiras. Foram necessárias três semanas de negociação até que os ativistas me abrissem seus portões e me permitissem testemunhar seus treinamentos, debates e decisões. Antes, apresentaram exigên­cias e cobraram garantias. Para ter acesso ao encontro, tive de me comprometer a não revelar a localização do sítio, só identificar na reportagem os ativistas que se dispusessem a declarar seus no­mes e profissões e a tratar a todos com respeito. Em nenhum momento soube o endereço do sítio. Marcamos um en­contro no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), onde os Black Blocs se reúnem em dias de manifestação na capital paulista. De lá, segui com dois guias até o sítio numa Kombi. Uma parte do caminho foi feita em estrada de terra.

As primeiras horas foram para su­perar desconfianças. No começo, fui chamado de "senhor". Rompi parte das resistências com a ajuda de um antigo sindicalista. Ex-funcionário da Rede Fer­roviária Federal, o jornalista Leonardo Morelli coordena a ONG Defensoria Social, um braço visível e oficial que os apoia. Morelli me recebeu no sítio porque acredita que os "blockers" pre­cisam de visibilidade e reconhecimento dos meios de comunicação. Só por meio deles, diz ele, podem superar a rejeição de quase toda a sociedade, que condena o quebra-quebra característico das apa­rições dos Black Blocs. O termo, segundo eles, designa uma forma de atuação, não um grupo ou movimento organizado.

Aos 53 anos, Morelli é o mais velho do grupo. Participou de pastorais católicas de direitos humanos. Integrou o grupo que originou a Comissão Pastoral Operária. Militou com petistas como Luiz Gushiken (1950-2013), ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula, e o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh. Seu nome aparece em quatro relatórios dos órgãos oficiais de espionagem. Datado de 1987, um documento do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) relaciona Morelli entre punks e anarco-sindicalistas. Segundo o texto, Morelli propunha "furar os pneus e quebrar os vidros dos ônibus" para parar São Paulo e provocar uma greve geral dos trabalhadores. "Eu já era Black Bloc nos anos 1980, antes de existir o movimento com esse nome", diz. Ele foi demitido da RFFSA por par­ticipar de uma greve nos anos 1980. No fim da década, foi anistiado e aposentado.

Agora, tenta influenciar os Black Blocs com novas causas. Ergue bandeiras am­bientais, denuncia os lixões e a conta­minação de áreas da periferia. Defende a desmilitarização das polícias, a libe­ração de biografias não autorizadas, o controle social das pesquisas científicas, combate o Marco Civil da Internet e cobra as renúncias dos governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.

Os ativistas reunidos no interior pau­lista compartilham o credo anarquista de Morelli, mesmo com pouca informação sobre o tema. O mais jovem do grupo, com 17 anos, é um típico punk da periferia pau­lista, de cabelo moicano. Tenta concluir o ensino médio. Num dos últimos con­flitos, foi fotografado quebrando a pon­tapés uma vidraça de uma agência ban­cária. Distribuída por agências de notícia estrangeiras, a imagem rodou o mundo.

Pouco mais velho que ele, um rapaz de óculos diz ter lido textos anarquistas na internet e não compreender como todos de sua idade não aderiram ao movimen­to. Morador da periferia paulistana, conta que cresceu assistindo a amigos e vizinhos apanharem da polícia. Nunca votou e afir­ma que jamais escolheria os candidatos preferidos por seus pais na eleição presi­dencial de 2010 - Dilma Rousseff e José Serra. Na noite de 26 de outubro, teste­munhou o espancamento do comandante da Polícia Militar de São Paulo, coronel Reynaldo Rossi. Relata que Rossi fora "marcado" pelos "blockers". A ordem era bater nele sem acertar a cabeça, para evi­tar o risco de morte. "Vi muito amigo ser espancado pela polícia lá no meu bairro. É assim que vamos responder daqui para a frente", diz o Black Bloc com pinta de nerd.

O grupo comprou a Kombi que me conduziu e um Jeep Willys com dinheiro que recebeu de entidades nacionais e estrangeiras. Segundo Morelli, desde o início deste ano, já ingressaram nos co­fres da Defensoria Social € 100 mil. Ele afirma que o dinheiro foi repassado pelo Instituto St Quasar, uma ONG ligada a causas ambientais. Morelli também cita entre seus doadores organizações como as suíças La Maison des Associations Socio-Politiques, sediada em Genebra, e Les Idées, entidade ligada ao deputa­do verde Jean Rossiaud. Procurados por ÉPOCA, ambos negaram ter enviado di­nheiro. Morelli diz que a Defensoria So­cial também foi abastecida pelo Fundo Nacional de Solidariedade, da CNBB. A CNBB também negou os repasses. Mo­relli ainda relacionou entre seus conta­tos os padres católicos Combonianos e a Central Operária Boliviana.

O dinheiro financia os treinamentos dos militantes, como o ocorrido no fim de semana de Finados e outro realizado em julho na cidade de Cáceres, em Mato Grosso. Nessas ocasiões, os ativistas são informados de que a precondição para ser Black Bloc é ter disposição para en­frentar a polícia. Em Cáceres, aprende­ram a se proteger das balas de borracha com escudos feitos com tapumes. Fo­ram orientados a formar paredes com os escudos para se defender em bloco, como as tropas de choque fazem hoje e, no passado, fizeram as falanges gregas e legiões romanas. Em Cáceres, havia rapazes que prestaram serviço militar. Ex-recrutas do Exército, eles ensinaram aos colegas Black Blocs o que aprende­ram na caserna. Em Cáceres e no inte­rior paulista, os ativistas tiveram aulas com o ex-militante do MST Paulo Ma­tos. Aos 36 anos, ele acumula 21 anos de militância. Participou de cinco invasões, foi preso, processado e ajudou a orga­nizar o assentamento mato-grossense Antônio Conselheiro, o maior do país. Deixou o MST quando passou a acre­ditar que alguns de seus companheiros eram corruptos. Conta que, ameaçado por eles, fugiu para a Bolívia, onde co­meçou a estudar medicina. Diz que tra­balhou como enfermeiro e aprendeu a fazer pequenas cirurgias. Carrega um kit com bisturi, agulha de sutura, pinça, tesoura e luvas para socorrer quem se fere no combate das ruas. "Somos gla­diadores sociais", afirma Paulo Matos. [...].

O discurso seduz gente como Daniela Ferraz, paulistana criada no complexo de favelas do Capão Redondo. Aos 31 anos, mãe de um filho que mora com o pai, ela cometeu dois assaltos e cumpriu cinco anos de prisão. "Tinha filho para criar e uma irmã criança para ajudar a criar. Não tive alternativa, e o desespero me levou a assaltar. Mas nunca me en­volvi com homicídios", diz. "Quando os corruptos poderosos roubam milhões, nada acontece. Quando o pobre assalta para comprar comida e fraldas para o filho, vai preso." Ainda cumprindo pena em liberdade, Daniela armou-se de paus e pedras para atacar agências bancárias. Agora, é conhecida como Dani, a Pan­tera dos Black Blocs. (Capa da revista)

Os Black Blocs me receberam em seu refúgio. Concederam entrevistas, mas não permitiram filmagens nem o uso de câmeras profissionais. Morelli e Matos aceitaram que eu os fotografas­se no sítio com o celular. Escolheram um cenário neutro, de forma a evitar a identificação do local. A meu pedido, fizeram outras imagens após o encon­tro do fim de semana, para ilustrar esta reportagem. Quem foi ao encontro de Finados ganhou um par de CDs. Eles contêm programas para sabotar redes de computadores de órgãos públicos e empresas privadas. Desenvolvidos por programadores vinculados à célula ca­rioca do grupo hacker Anonymous, esses programas já circulam na internet.


Os Black Blocs brasileiros seguem uma onda mundial. São uma manifestação tardia de um fenômeno que tem origem na Alemanha dos anos 1980 e, gradualmente, começou a aparecer nas manifestações de ruas pelo mundo. Primeiro, nos protestos antiglobalização dos anos 1990. Depois, como parte das mobilizações que se se­guiram à crise econômica de 2008. Agora, quebram vitrines e enfrentam a polícia no Brasil. O cientista político canadense e ati­vista Francis Dupuis-Déri, da Universidade de Québec, afirma que os Black Blocs são mais uma tática que um movimento político, mais uma demonstração de rua que uma ideologia. Envolveram-se em protestos no Canadá, na Grécia, na Es­panha e no Egito. "Estão se convertendonum fenômeno global, como a crise eco­nômica", diz Dupuis-Déri... Em dez anos, 10 mil foram presos, a maioria em protestos antiglobalização. A cadeia pune a violência e pode coibi-la, mas não ajuda a compreender o que eles querem, quem são, o que pensam, como se organizam - e, principalmente, quem os financia. Por João Gabriel de Lima e Hudson Corrêa para a revista Época no. 87, novembro 2013

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Da série "Fábulas de Esgoto" - Celso Mello e a Folha

“Terminado seu mandato na Presidência da República, Sarney resolveu candidatar-se a Senador. O  PMDB, negou-lhe a legenda no Maranhão. Candidatou-se pelo Amapá. Houve impugnações fundadas em questão de domicílio, e o caso acabou no Supremo Tribunal Federal. Naquele momento, não sei por que, a Suprema Corte estava em meio recesso, e o Ministro Celso de Mello, meu ex-secretário na Consultoria Geral da República, me telefonou:
-O processo do Presidente será distribuído amanhã. Em Brasília, somente estão por aqui dois ministros: o Marco Aurélio de Mello e eu. Tenho receio de que caia com ele, primo do Presidente Collor. Não sei como vai considerar a questão.
-O Presidente tem muita fé em Deus. Tudo vai sair bem, mesmo porque a tese jurídica da defesa do Sarney está absolutamente correta.

Celso de Mello concordou plenamente com a observação, acrescentando ser indiscutível a matéria de fato, isto é, a transferência do domicílio eleitoral no prazo da lei. O advogado de Sarney era o Dr. José Guilherme Vilela, ótimo profissional. Fez excelente trabalho e demonstrou a simplicidade da questão: Sarney havia transferido seu domicílio eleitoral no prazo da lei. Simples. O que há para discutir? É público e notório que ele é do Maranhão! Ora, também era público e notório que ele morava em Brasília, onde exercera o cargo de Senador e, nos últimos cinco anos, o de Presidente da República. Desde a faculdade de Direito, a gente aprende que não se pode confundir o domicílio civil com o domicílio eleitoral. E a Constituição de 88, ainda grande desconhecida (como até hoje), não estabelecia nenhum prazo para mudança de domicílio. O sistema de sorteio do Supremo fez o processo cair com o Ministro Marco Aurélio, que, no mesmo dia, concedeu medida liminar, mantendo a candidatura de Sarney pelo Amapá. Veio o dia do julgamento do mérito pelo plenário. Sarney ganhou, mas o último a votar foi o Ministro Celso de Mello, que votou pela cassação da candidatura do Sarney.

Deus do céu! O que deu no garoto? Estava preocupado com a distribuição do processo para a apreciação da liminar, afirmando que a concederia em favor da tese de Sarney, e, agora, no mérito, vota contra e fica vencido no plenário. O que aconteceu? Não teve sequer a gentileza, ou habilidade, de dar-se por impedido. Votou contra o Presidente que o nomeara, depois de ter demonstrado grande preocupação com a hipótese de Marco Aurélio ser o relator. Apressou-se ele próprio a me telefonar, explicando:
-Doutor Saulo, o senhor deve ter estranhado o meu voto no caso do Presidente.
-Claro! O que deu em você?
-É que a Folha de S. Paulo, na véspera da votação, noticiou a afirmação de que o Presidente Sarney tinha os votos certos dos ministros que enumerou e citou meu nome como um deles. Quando chegou minha vez de votar, o Presidente já estava vitorioso pelo número de votos a seu favor. Não precisava mais do meu. Votei contra para desmentir a Folha de S. Paulo. Mas fique tranqüilo. Se meu voto fosse decisivo, eu teria votado a favor do Presidente.

Não acreditei no que estava ouvindo. Recusei-me a engolir e perguntei:
-Espere um pouco. Deixe-me ver se compreendi bem. Você votou contra o Sarney porque a Folha de S. Paulo noticiou que você votaria a favor?
-Sim.
-E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou sua vez de votar, você, nesse caso, votaria a favor dele?
-Exatamente. O senhor entendeu?
-Entendi. Entendi que você é um juiz de merda!Bati o telefone e nunca mais falei com ele.”

Saulo Ramos, “Código da Vida”, Ed. Planeta, 8ª reimpressão, 2007 - Enviado por Sergio Chear - confira.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sonhar também muda o mundo, por Edilene Toledo


Quem já não sonhou com um mundo diferente, no qual fosse pos­sível o máximo de liberdade com o máximo de solidariedade? Os anarquistas acreditavam, e acreditam ainda, que essa esperança não e uma utopia: ela pode se tornar realidade.

Eles gostam de dizer que o ideal existe desde a Antiguidade, ou seja, desde que há luta pela liberdade. Mas a doutrina só se tor­naria movimento organizado no século XIX, na Europa. Na pauta, a crítica à sociedade industrial, aos males do capitalismo e à sua indiferença diante do sofrimento humano.

A palavra anarquia, usada frequentemente para designar de­sordem e confusão, vem do grego e significa "sem governo", isto é, o estado de um povo sem autoridade constituída. Do mesmo ho­rizonte de significado nasce o anarquismo, doutrina politica que prega que o Estado é nocivo e desnecessário e existem alternativas viáveis de organização voluntária. 

Para a verdadeira libertação da sociedade seria necessário, ainda, destruir o capitalismo e as igrejas. Os anarquistas opunham-se à participação nas eleições e aos parlamentos, pois considera a democracia liberal uma farsa, negando qualquer forma de organização hierarquizada.

A nova sociedade seria uma rede de relações voluntárias entre pessoas livres e iguais, em equilíbrio natural entre liberdade e ordem não imposta, mas garantida pela cooperação voluntaria. Eliminados o Estado centralizado, o capitalismo e as instituições religiosas, afloraria a verdadeira natureza humana e as pessoas voltariam a assumir suas responsabilidades comunitárias. O futuro anarquista seria feito de um conjunto de pequenas comunidades descentralizadas, autogeridas e federadas, que a livre experimentação modificaria pouco a pouco. 

O francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) foi o primeiro a organizar as ideias do anarquismo. Em seu texto “O que é a propriedade?” (1840), escreveu que a política era a ciência da liberdade, que o governo do homem sobre o homem, em qual forma, era opressão, e que a sociedade só atingiria a perfeição na união da ordem com a anarquia.

Ainda no século XIX, o anarquismo ganha adeptos em todo o mundo [...]. O russo Mikhail Bakunin (1814-1876) defendia que a futura organização da sociedade deveria ser realizada de baixo para cima, pela livre associação. Bak e outros anarquistas rivalizaram com Karl Marx sugerindo que o socialismo seria tão despótico quanto outras formas de Estado. Mais tarde, Emma Goldman (1869-1940), judia russa emigrada os Estados Unidos, famosa por sua militância, fez duras críticas aos rumos dados pelos bolcheviques à Revolução Russa em função da centralização estatal e do autoritarismo, que teriam paralisado a iniciativa e o esforço individuais.

Os anarquistas russos, em aberta oposição aos que consideravam uma ditadura distante dos ideais libertários, passaram a ser perseguidos e suas atividades foram proibidas já poucos meses após a Revolução de Outubro. Em 1920, grande parte dos membros do Exército Revolucionário Insurrecional, liderado pelo anarquista Nestor Makhn, fuzilada pela Cheka, a polícia responsável por re­primir atos considerados contrarrevolucionários. Em poucos anos, os anarquistas da Rússia foram quase todos mortos, aprisionados, banidos ou re­duzidos ao silêncio. 

Os anarquistas incentivavam a luta dos traba­lhadores contra a exploração capitalista através do apelo para diversas formas de ação, como greves, boicotes, comícios, passeatas, fundação de sindi­catos, denunciando o que consideravam ações repressoras da burguesia e do Estado. Embora tenha conquistado corações e mentes em diferentes clas­ses sociais, o anarquismo se difundiu, sobretudo entre os trabalhadores pobres urbanos, e foi um elemento importante em seu processo de auto-organização e agregação social, recreativa e cultu­ral. 

A circulação das ideias anarquistas se dava por meio de campanhas, comícios, pela imprensa e em publicações, mas também com a organização do tempo livre em eventos como teatro, piqueniques e festas. Assim, os anarquistas transformavam, ou ao menos abalavam, uma mentalidade consolida­da em vários países, segundo a qual trabalhadores pobres deviam ficar fora da política.

Um dos livrinhos mais famosos de propagan­da anarquista foi “Entre camponeses, diálogo sobre a anarquia”, do italiano Errico Malatesta (1853-1932), publicado em Florença, em 1884. Nele se lia a con­versa entre dois camponeses, Giorgio, um jovem anarquista, e Beppe, um velho amigo de seu pai. Beppe tenta dissuadir Giorgio, argumentando que a política era coisa para os senhores, e que o tra­balhador tinha que pensar em trabalhar e fazer o bem, assim viveria tranquilo e na graça de Deus. No fim, é o velho Beppe quem sai convertido ao anarquismo.

Malatesta nasceu no sul da Itália, em uma família rica. Coerente com suas ideias, distri­buiu as terras que herdou aos camponeses. Foi um dos anarquistas mais influentes em todo o mundo, inspirando inúmeros militantes e trabalhadores. Por isso foi duramente perseguido pelo regime fascista de Benito Mussolini, desde sua ascensão ao poder em 1922.

Embora os anarquistas concordassem com os objetivos que queriam atingir, eles divergiram muito sobre os meios para alcançá-los. Na década de 1890 houve grandes atos de violência dos anar­quistas no cenário mundial: foram mortos um rei da Itália, uma imperatriz da Áustria, um primeiro-ministro da Espanha, um presidente da França e um dos Estados Unidos.

Mas a maioria dos anarquistas recusou essas ações individuais e violentas. Alguns tentaram experimentar a organização libertária formando pequenas comunidades autogeridas que, em ge­ral, tiveram vida curta e difícil. Outros organiza­ram insurreições. Muitos se dedicaram à forma­ção e à participação nos sindicatos de trabalha­dores, que consideravam um espaço privilegiado para a difusão da ideia anarquista e um exercício importante de autogestão. Houve os que investi­ram na educação, criando escolas alternativas que visavam formar crianças autônomas, e na arte en­gajada, como o teatro popular e a literatura com conteúdos políticos.

No Programa Anarquista, escrito por Malatesta em 1903, ele argumentava que os anarquistas que­riam mudar radicalmente o mundo, substituindo o ódio pelo amor, a concorrência pela solidarie­dade, a busca exclusiva do próprio bem-estar pela cooperação, a opressão pela liberdade. "Queremos que a sociedade seja constituída com o objetivo de fornecer a todos os meios de alcançar igual bem-estar possível, o maior desenvolvimento possível, moral e material. Desejamos para todos pão, li­berdade, amor e saber", escreveu Malatesta na conclusão do programa. 

Já nos anos 1920 e 1930, o movimento anarquis­ta perdeu força, com o surgimento dos partidos comunistas e o aumento da presença do Estado nas sociedades ocidentais, fechando o ciclo do chamado anarquismo histórico. Na Espanha, em Aragão e na Catalunha, os anarquistas consegui­ram realizar uma verdadeira revolução durante a guerra civil: operários e camponeses se apode­raram das terras e das indústrias, estabeleceram conselhos de trabalhadores e fizeram a autogestão da economia. Essa coletivização teve considerável sucesso por algum tempo e, embora derrotada, foi a experiência anarquista mais importante da história e ficou na memória dos libertários como a prova concreta de que a anarquia era possível. 

A partir dos anos 1960, quando se confirmaram suas previsões sobre os perigos da centralização do poder nos países socialistas, houve uma retomada do anarquismo em todo o mundo. Suas ideias li­bertárias influenciaram movimentos sociais, como o estudantil, o feminista, o ecológico e o hippie, penetrando com força também nas universidades. Em tempos de contestação do capitalismo e da capacidade dos governos de representar suas so­ciedades, os ideais anarquistas parecem mais vivos do que nunca.

Embora difícil de implementar, a proposta anarquista contou diversos pensadores e influenciou vários países(1). Por Edilene Toledo, professora da Universidade Federal de São Paulo para a Revista De História da Biblioteca Nacional no. 95, Agosto 2013

(1) - O link com a matéria sobre o assunto “O Anarquismo mundo afora”, está em fase de pesquisa e montagem no blog.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A história de Lullubelle


Diferentemente da turma glauberiana, que alardeava na década de 50 que “arte se faz com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, atualmente, caso você não seja um “mensaleiro”, pra que sua “arte” deixe de ser um malfeito e passe a ser percebida como “coisa” de expressão – símbolo de uma ideia/pensamento - é preciso algo mais. É preciso ter uma marca, uma imagem que, sem muitas palavras, decodifique sua mensagem direto nas redes neuronais da galera, sem muitos processos intermediários, pois essa turma não digere muito bem qualquer ideia/pensamento, escrita, com mais de 140 caracteres - nesses casos, a informação tem que ser injetada diretamente no neurônio... aí a importância dos sinais, imagens, símbolos&marcas.

Dizem os entendidos no assunto que o significado das palavras é um conceito que abrange pensamento + sinais. “As palavras são sinais, e, como todos os sinais, indicam alguma coisa, ao contrário dos símbolos que tomam o lugar da coisa”. 

Daí alguns acharem que a comunicação atual, de certa forma, realiza um retrocesso aos primórdios da escrita, onde a comunicação era feita através de símbolos e sinais - escrita cuneiforme, ideogramas e hieróglifos - ali pelos idos de 3000 AC. Pode até ser, mas os sinais atuais são mais bonitos, mais cleans e mais fashions, produzidos por bilhões de pixel e, às vezes, em 3D - o que não era muita novidade para os sumérios e egípcios, pois a escrita cuneiforme e os hieróglifos, quando em alto relevo, sugerem um 3D sem efeitos especiais ou um 2D com efeitos especiais – é só uma questão de ponto de vista.

Como careço de tamanha iluminação, pensei: por que reinventar a roda se ela já rola por aí redonda e eficientemente? Então fui a cata de um “símbolo” que sintetizasse a “filosofia” do Q&M, que em linhas gerais resume-se: Não seguir nenhuma linha política-filosófica e não ter muito critério nas escolhas (que é para manter a coerência).

Aí que surgiu a Lullubelle.

A vaquinha foi capa do disco Atom Heart Mother, um álbum de rock progressivo gravado em 1970, pela banda britânica Pink Floyd – da qual eu era fanzaço. O álbum chegou ao primeiro lugar em números de vendas, no Reino Unido e foi disco de ouro, em Março de 1994, nos Estados Unidos. Foi quando Lullubelle correu pro abraço e virou celebridade.

A capa do disco é uma das mais enigmáticas da história da música. O bovino mais famoso do rock mundial aparece tanto no vinil, quanto no CD. Lullubelle III, uma cruza das raças holandesa e normanda, foi fotografada em uma propriedade rural do interior da Inglaterra. A gravadora pagou ao dono da propriedade cerca de mil libras pelos “direitos de imagem” do animal.

Foi mamão com mel. Pensei: se a imagem enigmática dessa vaca tem tanto magnetismo assim, vou pegá-la emprestada como símbolo/marca deste blog e seus afins e surfar nesta energia bovina. E ainda tem a vantagem de que se amanhã, por ventura, vierem me cobrar direitos sobre a imagem de Lullubelle, apelo para a Sociedade Protetora dos Animais e me asilo na embaixada da Índia, onde a vaca é um animal – símbolo/marca - sagrado.


É isso. CDantas 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Qualquer criança sabe, qualquer criança brinca...

Cerca de 81% dos brasileiros consideram os partidos “corruptos ou muito corruptos”, segundo pesquisa Ibope divulgada ontem pela Transparência Internacional. Isso quer dizer que quatro de cada cinco pessoas põem em xeque a base da representação política no País. Os números do levantamento concluído em março traduzem uma insatisfação que ficou explícita três meses depois, com a série de manifestações que se alastraram pelas cidades brasileiras. A mesma pesquisa – feita em 2010 pela Transparência Internacional – mostra que, no Brasil, a situação se agravou: três anos atrás, o índice de descontentamento sobre o tema era de 74%. Leia

Tai, ó, não precisa fazer plebiscito. Qualquer criança sabe, qualquer criança brinca... é só perguntar pro Gabrielzinho. Mas é bom essa turma ir tocando a política com mais cuidado, pois pra esse índice de insatisfação chegar a 100%, não deve levar mais três anos não... e aí, a praça dos Três Poderes pode virar uma praça Taksim ou até coisa pior, como uma Tahrir, no Egito.

As semanas se arrastaram, sem nenhum sinal de que os estudantes seriam processados ou libertados em breve. O "comitê de presos" clandestino de apoio aos detidos conclamou os alunos das escolas secundárias de Córdoba a fazerem uma marcha pelas ruas exigindo sua liberdade. Alberto convidou Ernesto, então com 15 anos, a se juntar a eles, porém, surpreendentemente, ele se recusou. Ele aderiria, disse, somente se lhe dessem um revólver. Argumentou com Alberto que a planejada marcha era um gesto inútil, que pouco adiantaria, e os estudantes iam "levar uma surra monumental com cassetetes.


No trecho acima, Ernesto é Ernesto Guevara, que aos quinze anos já sabia que para se fazer um bom omelete é preciso quebrar alguns ovos.  O texto foi retirado do livro “Guevara - uma biografia” de Jon Lee Anderson, que comecei a ler esta semana pra ver se, digamos, me inspiro um pouco. Já havia lido uma biografia sobre Che – faz tempo - mas achei meio fajuta, essa parece muito boa – foi lançada em 97... mas há de ter muita fé para se crer en la Revolución, pois são quase 900 páginas. new toyora camry

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Saneamento sim, teleférico não!

Extra... extra, teleférico não! “Já querem implementar o PAC 2, mas as obras do PAC 1 ainda não estão prontas. Querem colocar teleférico e escada rolante, mas de que adianta? Tem lugar com esgoto a céu aberto na Rocinha”, contestou a jovem que ontem fazia parte dos protestos na Rocinha (Rio de Janeiro). Leia - “Escola e posto de saúde insuficientes e o governo que gastar uma fortuna pra instalar um teleférico na Rocinha, como se ali fosse uma estação de esqui nos Alpes suíços” – Ricardo Boechat no jornal da Band. 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Opção preferencial

O secretário-geral da CNBB, Dom Leonardo Steiner, reuniu-se segunda-feira com a ministra Gleisi Hoffmann. O religioso defendeu os índios e afirmou que a Igreja faz uma opção preferencial pelos pobres. A ministra retrucou: “E quando os dois lados são pobres?”, referindo-se aos assentamentos e aos pequenos produtores. Ilimar Franco O Globo

Não gosto muito do narizinho arrebitado da Gleisi, mas essa eu apoio. Peitou - com todo respeito - a Igreja. A Igreja faz “uma opção preferencial pelos pobres” quando o dinheiro vem das outras quermesses, mas se é pra abrir o cofre paroquial aí o milagre é mais embaixo. É sempre bom lembrar que o universo deste diálogo restringe-se a: índios autênticos com selo do Inmetro - pois já andam falsificando índios e/ou contrabandeando-os do Uruguai; e a pequenos produtores de fato, aquele com as mão sujas de terra, pois não existe grande produtor pobre. 

segunda-feira, 20 de maio de 2013


quinta-feira, 9 de maio de 2013

ZACS


Segundo o INPE, “uma Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) caracteriza-se como sendo uma banda persistente de precipitação e nebulosidade orientada no sentido noroeste-Sudeste, que se estende desde o sul da Amazônia até o Atlântico Sul Centro”. Na TV as mocinhas do tempo adoram uma ZCAS... os  políticos, parece que também, só que eles dão outro sentido ao fenômeno. Para eles ZACS, significa Zona de Convergência de Assaltos Sistêmicos, que diferentemente do fenômeno natural - que ocorre no sentido “noroeste-Sudeste e se estende desde o sul da Amazônia até o Atlântico Sul Centro” – a versão política para ZACS, se esparrama por todos os pontos cardeais possíveis e imaginários no Brasil. Ponto cardeal imaginário? Perguntaria o mais atento. Sim, pois essa turma, no âmbito de previsão da canalhice, consegue prever desvios de verbas em dimensões inimagináveis pela ciência meteorológica.


quarta-feira, 8 de maio de 2013


Apesar de, publicamente, Eike negar esse affair, no privado, parece que rolou:
(1)  Foto envida por Sérgio Chear.

sábado, 27 de abril de 2013

Diálogo de um monólogo


-Que foi aquilo?
-Aquilo o que?
-Tobogã, abismo, buraco do tempo... grotões. Parecia mais trailer do filme “Viagem ao Centro da Terra 3”..
-...
-O gato comeu sua língua? Não lembra? Então dê uma olhada aqui.
-Menos babaquice, por favor, senão encerro este monólogo.
-Não seria de se estranhar. Coisa bem sua, né mesmo? Seu lado rousseff.
-Vou ignorar a piadinha. Porque esse patrulhamento?
-Patrulha... o cacete! A gente se conhece faz tempo. Fomos “criados” juntos, esqueceu? Tem mais coisa embaixo desses neurônios do que o acordão do mensalão... fala, vai.
-Ah...não sei ao certo. O clima do show? Elis foi um marco na minha vida. Representa muita coisa. Assim como Fidel, Edu Lobo, Guevara, o “Navio Negreiro”, a poesia de Vinícius, livros de Freud, músicas de Vandré, a SQS114, porres no Salamanca & Beirute, o Rosacruz, a coleção do Jorge Amado + os diálogos de Platão, a UNE & CASEB, os sonhos harmônicos do Clube de Jazz&Bossa, Elvis & Rolling Stones, o paradoxo familiar entre um pai comunista/mãe do SNI... ainda tinha uma perdigueira, com nome e pedigree “tchecos” – e com olhos verde-angelina – que era passional a ponto de, toda vez que nos “desentendíamos”, mijava na minha cama... tipo remarcando território. Convivi com tudo isso, junto e misturado, num espaço/tempo de uns 12 metros quadros em meu quarto, numa Brasília dos idos de 196alguma coisa. E eu nem tinha 18. (1)
-Carente?
-Hummm... não!
-Recaída!
-Depois dos sessenta a gente só tem recaida de pneumonia; ou então quando tropeça, mais de uma vez, no mesmo degrau.
-Realismo piegas?
-Quem me dera tantas “Emoções”.
-Então por que a cantilena?
-Frustração...!?!
-De?
-Não é “de”. Pode até ser “dó”... sustenido, semitonado, abaixo de um “ré”, na escala harmônica das ideologias!
-Ptuz! Que diabos vem a ser isso?
-Parece, que com o tempo, a gente - ou eu - vai se auto-blindando para as coisas que remetem as ilusões...
-Reza a lenda, que por muito menos, Walt Disney, após a sua morte, mandou congelar seu corpo na esperança de...
-Vá... a... merda!
-Calma garoto, só estou tentando entender em que camada, da nossa consciência, tá rolando esse papo. Lembra da fala de Chuang-Tzu? Você mesmo que me “apresentou” a ele.
-"Há uma coisa como deixar a humanidade sozinha; nunca houve tal coisa como governar a humanidade com sucesso...”? O filósofo taoista, considerado, por muitos, como o primeiro anarquista da humanidade... mas na época eu via isso como simples filosofia.
-Acho que tu anda misturando as coisas. Tá confundindo meretrício com meritíssimo; pato ao tucupi, com entupiram o...
Tá! Chega... já entendi. Sua ironia não ajuda em porra nenhuma.
-?...!
-Tá bom! Não precisa fazer essa cara de ego ofendido. Desculpas pedidas... certo? Vou tentar explicar: o primeiro comunista que conheci – eu devia ter uns 5 anos de idade (ainda, morava em BH), vivia lá em casa e dormia com minha mãe. Suas irmãs o chamavam de Sinhô, mas seu nome era Venâncio Dantas. Meu pai. Naquela época, ser comunista era que nem, atualmente, torcer pelo Corinthians em um jogo na Bolívia.
-Não entendi o Sinhô... mas entendo, então,  que esse bla bla bla todo é saudade do pai?
-“Sinhô” é assunto pra outros solilóquios, mas não é tão simples assim. Sempre convivi num clima onde “ideologia” - assim como conceitos exotéricos – era parte da “Verdade”. E hoje cadê?
-Cadê o que cara? Cadê seu pai?
-Porra, cadê esses caras. Cadê os Josés Dirceus da turma de Ibiúna no XXX Congresso da UNE? Eram tantos... eram quase mil. Cadê Luís Travassos, presidente da UNE, Vladimir Palmeira, presidente da UME, e Antonio Ribas, presidente da UPES... Cadê os quase mil de Ibiúna?
-Mataram!
-Não... mataram todos não. Antônio Ribas, de fato desapareceu em 1973, na região do Araguaia, segundo declarações de seus próprios companheiros. Luís Travassos morreu, sim, no Rio de Janeiro, em um acidente de carro no Aterro do Flamengo. Vladimir Palmeira, tá vivo, e se desligou do PT em 2011, pois foi contra o retorno de Delúbio Soares ao partido. Dirceu... bem não precisa dizer nada. Como também não é preciso falar sobre Genoíno e outros tantos... quase mil. Cadê a Dilma, torturada no  DOI-Codi? Cadê a revolução cubana? Cadê o socialismo? Cadê o povo?  
-Ufa!... ¡Viva la revolución! Mas me perdoe a falta de informação, pois desses, citados acima, só sei mesmo onde anda o “povo”: nesse momento tá batendo pernas nos shoppings fazendo compras para o dia das Mães. No mais, quer um conselho? Não assista mais esse DVD da Maria Rita. Tu fica chato pra cacete.
-(          ); este espaço foi o tempo que levei, contando até dez pra não... deixa pra lá. E obrigado. Ainda bem que você não vive de vender conselhos, senão morreria de fome.
-Vou ignorar esses últimos comentários e considerá-los como uma falha de conexão entre nossas sinapses, mas entendo que, em verdade, a pergunta que você tá procurando pra suas respostas é: “Cadê eu mesmo?”.
-Tô procurando merda nenhuma. Quem começou a fazer perguntas foi você.
-Tudo bem... tudo bem, como sempre sou manipulado... mas pra encerrar, em paz, essa prosa, proponho que relembre um daqueles versinhos-musicais que você gosta tanto e, aí, juro que esqueço as bobagens que falou.
-OK: “O terreiro lá de casa não se varre com vassoura, varre com ponta de sabre e balas de metralhadora.”. É um trecho da música “Cantiga Brava” de Geraldo Vandré. Entendeu ou quer que eu comece a atirar.
-Desisto. Tu hoje tá difícil. Melhor encerrar essa prosa... tô indo lá pro bar do seu Zé beber uma cerveja. Acho bom você não me acompanhar, pois eu não aguento mais esse papo. Aliás, hoje, eu não te aguento mais.
-Foi você quem começou!
CDantas

(1) – Estas estórias, assim como tantas outras – estórias da minha História - estão sendo compiladas sob o título: “1947 – O ano em que voltei”, que compõem o primeiro volume, de um conjunto de três, provisoriamente intitulado “Muda-se”. O segundo “tomo”, do “Muda-se”, chama-se “Vai dá Merda” - já foi concluído (foi escrito no decorrer de 2011/12); o terceiro – “A Dispersão” – ainda está na fase de ideação. Tudo isso – o “Muda-se” –deverá estar pronto em breve – junho 2017. Se eu sobreviver até lá, você lerá.

Postado originalmente em 26 de Abril de 2013 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Queda de braço ou briga de rua?


BRASÍLIA - O Palácio do Planalto foi duplamente derrotado na noite desta quarta-feira (24), na tentativa de votar o projeto de lei que cria dificuldades para a criação de novos partidos e asfixia as candidaturas à Presidência da ex-ministra Marina Silva e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a tramitação da proposta logo depois de o Senado ver-se obrigado a encerrar, por falta de quórum, a sessão que decidiria o pedido de urgência para a votação do projeto. Na liminar, pedida pelo PSB, Mendes afirmou que cabe ao STF analisar questões internas do Congresso em casos de "flagrante desrespeito ao devido processo legislativo ou aos direitos e garantias fundamentais".

Segue: Os peemedebistas Pedro Simon atacou o governo. "Isso que está aí é um Pacote de Abril de quinta categoria. Havia uma ditadura, um ato institucional, havia cassações, havia marechais, havia todo mundo", disse Simon, referindo-se ao Pacote de Abril de 1977, imposto pelo então presidente Ernesto Geisel. A medida criou a figura do senador biônico para evitar a vitória do MDB, o único partido de oposição na época. Hoje nós estamos numa democracia. O Brasil está livre. O Supremo está livre. A presidente da República está livre. O povo está livre. Podemos fazer o que quisermos dentro da democracia. Nós estamos nos entregando! E nós nos entregarmos é ato de covardia. Talvez tenhamos de nos referir à marechala presidente. Talvez, daqui a pouco, ela tenha de aparecer com um casaco diferente, que pode até continuar sendo vermelho – sua cor preferida –, mas com estrelas. O Pacote de Abril da dona Dilma começou, e o pior é que quem começa não volta para trás e se acostuma", bradou Simon. Leia

O bicho vai – já está? – pegar. Essa queda de braço ainda vai acabar em briga de rua. Lembra? Se nasceu depois de 1980, não vai lembrar. A Dilma até que fica bem de verde-oliva, né não? 

Postado inicialmente em 26 de Abril de 2013


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Situação delicada


Bastante delicada a situação de Eike Batista. Pelo que se apurou, Dilma tem interesse, sim, em ajudar as empresas do Grupo a sobreviverem. Mas não o empresário. Por outro lado, se Eike topar se desfazer de alguns ativos, ainda sobrará muito caixa. Afinal, os grandes perdedores nesta história são os investidores, donos de ações cujos nomes acabam com X. blogs.estadao/sonia-racy   Leia

Não sei o que a Sonia Racy entende por “situação delicada”. É raro - diria mais, é raríssimo - um milionário, que brinca de empresário, afundar junto com suas empresas quando estas naufragam. Até porque, dinheiro deles mesmo, não entra em nenhuma dessas transações, sejam elas X, Y ou Z. Agora, se o cara ainda tem a chance de um possível aporte de capital do governo, aí é mamão com mel. “Situação delicada”, pra empresário milionário é tentar manter a “patroa” sobre controle.

Os mais expertos, tipo Olacyr de Moraes, preferem contratá-las por empreitada.  Mas alguns, que optam por carteira assinada e prazo indeterminado, podem arcar com altos custos em caso de demissão sem justa causa, como é o caso: “A 3ª Turma do STJ rejeitou, ontem, o recurso de Alexandre Pato contra o pedido de pensão feito pela atriz Sthefany Brito, sua ex-mulher. Com isso, o jogador terá que pagar, durante 18 meses, uma pensão mensal de R$ 50 mil”. Ancelmo Gois – O Globo.

Na família do pato os “Tio Patinhas” são espécies raras, o que predomina mesmo, é, simplesmente, o “pato”. Diz a ciência, mais especificamente a zoologia, que o pato é um dos poucos animais que consegue dormir com metade do cérebro e manter a outra em alerta. Mas como se vê, já há mutações.

Postado originalmente em 19 de Abril de 2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

Socorro!


Os esforços do governo Dilma Rousseff para turbinar a economia somaram R$ 315,3 bilhões nos dois primeiros anos de mandato, e chegarão a pelo menos R$ 366 bilhões no fim de 2013. Esse valor inclui a redução de impostos para vários segmentos da economia, os subsídios incluídos no Orçamento para assegurar taxas de juros mais baixas ao setor produtivo, além de sucessivas injeções de recursos em bancos públicos para a ampliação do crédito. Leia
SOS 1 - Governo terá pacote para indústria química, usinas e empresas de defesa Produtores de etanol e fabricantes de produtos químicos devem pagar menos imposto e será criada empresa para setor de armas. Leia 
SOS 2 - A desoneração da folha de pagamento de 42 setores pelo governo federal vai demandar uma renúncia fiscal estimada em R$ 35,3 bilhões nos próximos dois anos – R$ 16 bilhões em 2013 e R$ 19,3 bilhões em 2014 –, informou nesta quarta-feira (3) o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcio Holland. Leia
SOS 3 - Uma das medidas em estudo para aliviar os custos das administradoras de planos de saúde é a redução de PIS/Cofins, o que aliviaria a carga tributária sobre o faturamento das operadoras. O governo também cogita desonerar a folha de pagamentos de hospitais que prestam serviços às operadoras de planos de saúde, ajudando empresas que não têm redes próprias de atendimento. Leia
SOS 4 - O governo retirou a cobrança de PIS-Cofins dos smartphones vendidos por até R$ 1,5 mil, o que deverá reduzir o preço desses aparelhos no varejo em 9,25% antes mesmo do dia das mães, conforme o decreto 7.981, publicado hoje no "Diário Oficial da União". Leia
SOS aéreo - A Secretaria de Aviação Civil pediu ao BNDES e à Anac estudos para ajuda às companhias aéreas, afirmou ontem o novo ministro à frente da pasta, Moreira Franco. “Já pedi para que BNDES e Anac façam estudos, porque precisamos de empresas robustas. De que adianta buscarmos ter aeroportos sensacionais e não termos empresas?” — disse. Leia
SOS OGX - Uma das propostas é o uso pela Petrobrás do Superporto do Açu, pertencente ao empresário, como base à produção do pré-sal da Bacia de Campos. Além da questão logística - o porto do Açu é o mais próximo aos campos petrolíferos de Campos -, um outro fator, talvez mais importante até, aproxima a Petrobrás ao futuro porto controlado pelo megaempresário Eike Batista. Leia

Não precisa ser economista pra saber que se você reduz sua renda aqui, terá que diminuir suas despesas acolá ou buscar outra fonte de renda pra equilibrar seu orçamento, senão terá que deixar de pagar algumas contas. Mesmo que seu contador maquie sua contabilidade, na hora do vamu vê, tem que ter saldo na conta bancária. Cortar impostos é bom e necessário, mas não tem mágica, não pode ser no improviso.  

E pra não dizer que não falei das flores, ainda tem as saidinhas de banco: “A Operação Nacional contra a Corrupção realizada pelo Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas (GNCOC) em parceria com diversos órgãos estaduais, nesta terça-feira (9), em 12 estados brasileiros, prendeu 92 pessoas, executou 337 mandados de busca e apreensão, 60 mandados de suspensão da função pública e 65 mandados de bloqueios de bens. De acordo o presidente do GNCOC e procurador geral de Justiça de Rondônia, Héverton Alves de Aguiar, estima-se que R$ 1,1 bilhão foi desviado de 131 órgãos públicos que estão sendo investigados”.Leia

Daqui a pouco vai ficar difícil fechar as contas, se é que esse “daqui a pouco” já não tá batendo na porta do Ministério Da Fazenda. E meu nego, cê acha que vai sobrar pra quem? Lívia Marini? Tolinho, ela, é uma personagem da Globo e nós nos apresentamos, ao vivo, no globo da morte, do circo mambembe da vida, no meio desse povo, em desmaiadas aquarelas brancas, pretas, e tantos outros milhões de combinações em tons de cinza obtidos na paleta das misérias brasileiras. CDantas

Postado originalmente em 12 de Abril de 2013

O que foi feito, amigo, de tudo que a gente sonhou...


No último Natal - 2012 - ganhei o DVD “Maria Rita - Redescobrir”, onde ela canta músicas da mãe. Já havia assistido umas duas vezes, mas ainda não havia acendido – tem coisas que só consigo fazer uma por vez, as básicas, tipo dormir & ficar acordado, morrer & estar vivo e, dentre outras tantas, escutar música & qualquer outra coisa. Mas, outro dia fiz isso: acendi o DVD. Em vários momentos do show ela não consegue conter a emoção que rola rosto abaixo. Pra quem viveu essa época, assim como eu, a emoção também rolou... ladeira abaixo. Se você é desse tempo, e não tem medo de tobogã, vale a pena assistir! Mas cuidado, pois na medida em que o show vai avançado, dá pra sentir um friozinho na barriga... uma sensação estranha como se estivesse  caindo num abismo, num buraco do tempo, que separa os grotões da Vida... pelo menos os grotões dos meus abismos. CDantas

“O que foi feito, amigo,
De tudo que a gente sonhou
O que foi feito da vida,
O que foi feito do amor...”
Trechos da música “O Que Foi Feito Deverá”, de Milton Nascimento

Postado em 19 Abril 2013

Kit sobrevivência gol


Após apontar o crescimento do custo com combustíveis como o principal fator responsável pelo prejuízo operacional da companhia em 2012, a Gol decidiu ampliar suas medidas de gerenciamento desse insumo. A companhia aérea iniciou este ano um projeto de bonificação para tripulantes de voos eficientes e pontuais. A empresa explicou que o melhor gerenciamento de consumo de combustível nos 950 voos da companhia é possível com medidas tomadas pelos pilotos e copilotos como subidas e descidas mais constantes e a utilização de rotas mais curtas. Já os comissários de bordo colaboram no gerenciamento das atividades de solo, contribuindo para a pontualidade das operações. A meta da companhia é obter uma economia de 700 toneladas mensais de combustível com o projeto, ou R$ 1,9 milhão por mês.Leia.

Lembra do “kit sobrevivência gol” divulgado, aqui, no Q&M? Pois é, a lista precisa ser atualizada: além da garrafinha de água,  do copo, do sabonete, do rolo de papel higiênico - principalmente para uma emergência do tipo no.2 - e dos opcionais como o sanduba e a latinha de skol, caso sua bolsinha seja térmica,  agora é bom levar também um ventilador, pois a Gol vai reduzir o uso do ar refrigerado em suas aeronaves. Mas a empresa já pensa em compensar esses desconfortos e está lançando - em paralelo a campanha de economia de combustível - o programa “Desembarque livre!”. O mote é: Liberte-se dos aeroportos - seu desembarque agora é livre! Explico: no momento da compra da passagem, você pode optar pelo “Desembarque livre!” e assinalar onde você deseja saltar - claro que dentro da rota pré-estabelecida. Então, quando a aeronave se encontrar bem em cima deste local, o piloto avisa pelo alto falante, a mocinha abre a porta do avião e você salta. É tipo ônibus interestadual. Mas tem GPS. Segundo a Gol, dependendo dos ventos, as chances de erro são mínimas. Essa opção poderá baratear o preço das passagens, em até 40%. Ah, dois detalhes importante: o paraquedas é por sua conta; o “Desembarque Livre” é exclusivo a quem tem bagagem de mão, pois o sistema não prevê - ainda – o arremesso de malas. CDantas

Postado originalmente em 18 de Abril de 2013 

Gnomos


Sempre que alguém cita “aqueles que torcem para que o Brasil dê errado”, fico me perguntando quem serão essas brasileiras e brasileiros? Onde se escondem essas criaturinhas? Seriam empresários? Estariam ocultos entre aqueles da classe-média ou na turma da baixa-renda? Nas UPPs? Nos semitons das notas musicais, entre as aguadas de um gauche ou entre as caras e bocas nos bastidores dos teatros? Na loucura dos drogados que perambulam pelos crack? Nos aposentados do INSS? Ou nas entrelinhas das oratórias imprecisas?

Nunca li; nunca escutei; ou alguém me disse; que estava escrito em; nem ouvi falar... nada, sobre povo algum que tenha lutado para que seu país desse errado. Aliás, sempre foi ao contrário.
Seriam, essas criaturinhas, os tais Gnomos? CDantas

Postado originalmente em 17 de Abril de 2013

É o bicho


Entre olhares de admiração, espanto, surpresa e curiosidade, a cadela Clara, da raça fila, com três anos e 73 kg, entrou ontem tranquilamente pela recepção e passou por corredores de um dos mais importantes hospitais do país, o Albert Einstein, em São Paulo. Ela foi visitar o dono, que está em tratamento contra um câncer na bexiga.

Após três anos de testes e preparo de equipes, o hospital liberou, sob rígido protocolo, que bichos de estimação, às vezes considerados membros da família, visitem pessoas internadas --mesmo em unidades semi-intensivas. [...] A entrada de bichos no Einstein --gatos e passarinhos também são aceitos-- faz parte também do cumprimento de regras de uma certificação internacional de humanização que o hospital conseguiu no ano passado. Leia

Minha a miga Cacau, afirma que isso não é novidade, pois um hospital de Brasília – lá pelos idos de 1973- no auge do AI5 – hospital esse o qual ela não divulga o nome nem sob tortura – adotou essa mesma estratégia. Mas por causa de uma sequência, desastrosa, de problemas, a diretoria se viu obrigada a cancelar tal procedimento.

Segundo a Cacau, duas ocorrências, que causaram verdadeiras tsunamis na estrutura da corte brasiliense, contribuíram, sobre maneira, para a decisão de cancelar o tal benefício. O primeiro envolveu um embaixador e sua esposa. Casal muito badalado no eixo Brasília-Búzios-Paris. Após uma delicada cirurgia plástica, a esposa do embaixador encontrava-se internada no referido hospital, quando o devotado marido foi visitá-la, acompanhado de um casal de dogue-alemão, muito querido da francesa-senhora. Porém, por ordem expressa da diretoria, a paciente só poderia receber dois visitantes a cada visita, uma vez por por semana. Ela optou pelo casal de dogue. O embaixador durante quatro semanas – tempo que durou a internação da jovem-francesa - postou-se na recepção do hospital, por uma hora e trinta minutos, que era o tempo de duração da visita. Assim que a jovem consorte teve alta do hospital, para seu azar, o embaixador deu-lhe baixa no casamento.

O segundo caso, que foi derradeiro para o fim do tal procedimento, se deu quando um famoso general, também internado no mesmo hospital para exames, ditos de rotina, mas que duraram 10 dias, decretou a entrada de três éguas Andaluz, consideradas membros da família e pelas quais tinha grande apreço. Bem, o resto da história fica por conta da sua imaginação. É claro que abafaram o caso. CDantas

Postado originalmente em 04 de Abril de 2013